Ao contrário do que muitos pensam, as línguas de sinais não são uma evolução das técnicas de mímica ou coisa do tipo. As línguas de sinais são o resultado de incontáveis interações entre indivíduos surdos e ouvintes, além de um esforço de eruditos linguistas, no sentido de estruturar línguas independentes dos idiomas falados em seus respectivos países.

O Surgimento das línguas de sinais

Não se pode tratar do tema de comunicação por sinais sem passar pela história de Charles-Michel de l’Épée. O clérigo e filantropo francês que viveu no século XVIII foi o grande responsável pela estruturação de dialetos sob uma forma robusta de linguagem. A l’Épée é creditado o mérito pela criação da língua gestual francesa, a qual mais tarde veio a servir de base para grande parte das línguas de sinais no mundo.

l’Épée criou com seus próprios recursos, o Instituto de Surdos-Mudos de Paris, o qual se tornaria a principal instituição de desenvolvimento, estudo e ensino de língua de sinais do mundo nos séculos XIX e XX. Através do trabalho de l’Épée, jovens surdos que antes eram considerados incapazes, em pouco tempo estavam escrevendo textos complexos, discutindo ideias filosóficas e até publicando em latim.

O surgimento da Libras

A língua de sinais surge no Brasil no século XIX, numa época em que a maior parte dos países europeus ainda discutia se o melhor método para educar surdos seria o gestualismo ou oralismo. Vanguardista por tradição, o Imperador Dom Pedro II encomendou os trabalhos do linguista Ernest Huet com o objetivo de fundar a língua de sinais no Brasil.

Há relatos de que o imperador tinha um neto ou sobrinho surdo, não se sabe ao certo, mas o fato é que ele, interessado na causa surda e sabendo da grande população que era acometida pela surdez, trouxe o linguista que aceitou a difícil missão. Ernest Huet trabalhava no Instituto de Surdos-Mudos de Paris, aquele mesmo fundado por Michel de l’Épée, conforme relatamos anteriormente.

Em 1855, Huet aparentou o projeto da criação de um instituto de estudo e ensino de uma língua de sinais brasileira, o qual foi fundado em 1857 no Rio de Janeiro sob o nome de IISM (Instituto Imperial de Surdos-Mudos). Ele funciona até hoje, mas após o golpe que deu fim ao império, passou a se chamar INES (Instituto nacional de ensino de sinais). Repare que além da palavra “imperial”, foi retirada a palavra “mudos”, pois posteriormente, ficou esclarecido que a maior parte dos surdos não falava porque nunca havia aprendido e não porque era muda.

A evolução da Libras

A língua criada por Huet não se chamava libras ainda, este nome veio a se consolidar posteriormente, já no século XX. Ao longo dos tempos, com o treinamento de professores e ensino da língua à comunidade surda, a mesma foi tomando formas mais regionalizadas e “abrasileiradas”, deixando de parecer tanto com sua mãe, a língua gestual francesa. Hoje a libras é uma língua complexa e altamente regionalizada, adotada em todo o país.

Ensino e difusão da Libras

Em 1970 foi fundada a FENEIDA, que em 1987 virou FENEIS (federação nacional de educação e integração de surdos). O ensino e a integração de professores e comunidade surda passaram a se desenvolver mais rapidamente e a difusão da língua passou a avançar cada vez mais. Em 1980, o surdo Jorge Guimarães publica o romance Ânsia de Amar.

Já no início do século XXI, a legislação brasileira passou a abarcar a comunidade surda e a reconhecer a Libras como uma língua, bem como a determinar que a comunidade surda possa ser atendida em sua própria língua nas instituições do Estado brasileiro.

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